Pãozinho
“Bom dia!” - disse o senhor que atendia as pessoas na padaria. Sempre que alguém entrava na loja, era imediatamente influenciado pelo cheirinho delicioso de pão acabado de fazer.
Mas, naquele dia, era diferente. O rapaz que entrou parecia ser imune ao hipnotismo do pão.
“Bom dia!” - disse o senhor novamente.
“Bom dia. Queria cinco bolinhas, se faz favor.” - pediu o rapaz.
Perante o seu pedido, o padeiro virou as costas, agarrou num saco de plástico daqueles transparentes, pegou na pinça gigante e utilizou-a como uma terceira mão para pegar as bolinhas e colocá-las no saco, uma a uma.
No entanto, a sua mente estava infestada de questões sobre o indivíduo. O que é que caracteriza alguém que tem o desplante de ignorar o cheirinho delicioso do pão?
A primeira bolinha entrou no saco. Onde é que ela iria parar a seguir? Será que a esperava uma cesta bonita, feita do mais belo vime? Seria uma cesta grande ou pequena? Certamente que nenhuma, não faz sentido que alguém que não aprecie pão queira expor o esplendor panificável na sua cozinha.
A segunda bolinha entrou no saco. Qual seria o percurso termodinâmico da bolinha? Será que o indivíduo prefere torrar na torradeira, fazer no forno ou numa tostadeira? Ou talvez nenhum, talvez prefira o equilíbrio com a temperatura ambiente?
A terceira bolinha entrou no saco. Qual é a manteiga que a vai acompanhar? Com sal? De marca chique ou da mais básica do Continente? Com alho? Ou… o mais insanável e insaciavel possível: SEM SAL?
A quarta bolinha entrou no saco. Será que ela seria acompanhada por outra bolinha na degustação do indivíduo? Será que ele tem um companheiro para comer pão com ele? E se tiver, será que é desrespeituoso da arte da panificação também? Ou talvez, ele tenha um companheiro, e é para ele que vai o pão, e portanto os pães são devorados individualmente mas por alguém que os merece!
A quinta bolinha entrou no saco. E uma sensação de amargura invadiu o padeiro.
“Olhe, está tudo bem consigo?” - perguntou o padeiro enquanto se virava para o indivíduo.
Mas o indivíduo já lá não estava.
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