Era uma vez um pão que vivia na Rua da Farinha.
Ele vivia com os pais, com os seus avós e com os três irmãos.
Foi sempre muito feliz, até ao dia que reparou em algo que não havia notado antes.
Todos da sua família eram torrada.
Os seus pais eram torradas grandes; Os seus avós, torradas duras;
Os seus irmãos, pequenas torradas, feitas da massa mais fofa.
O pobre pãozinho ficou muito confuso. Porque seria ele diferente de todos os demais?
Como todas as segundas, às oito da manhã, o pãozinho entra na sala de aula, pronto para aprender novas coisas. Porém, nessa segunda, o pãozinho não conseguiu aprender nada. Ele ficou concentrado vendo como todos os seus colegas eram torradas. Não só eles, mas também os professores. O professor de francês era torrada de baguete. A professora de matemática, torrada de centeio. Os seus melhores amigos, Joaquim Miolo e Maria Côdea, eram ambos torradas tostadas. O pobre pãozinho ficou muito triste. Começou a sentir-se muito excluído e sozinho.
Nesse triste dia, o pãozinho foi para casa e escondeu-se no quarto, debaixo do colchão da sua cama de trigo, onde muito triste começou a chorar. A sua avó ouviu e entrou no quarto. Encostou-se junto do pãozinho e perguntou o que se passou.
- Querido neto, o que se passa?
- Avó, eu sou diferente. Queria ser como os outros. Porquê que sou diferente?
- Tu não és diferente neto, és apenas especial.
- Como especial avó? Todos são torradas. Eu sou um pão horrível.
- Não, querido neto. Todos nós torradas, somos parte de pão. Tu és um pão. Tu és puro. Tu és a forma mais pura de pão que existe. Não és diferente, apenas és puro. E para sempre assim serás. Puro e lindo.